quarta-feira, 12 de janeiro de 2011


Os antecedentes da Revolução do dia 25 de Abril de 1974

Desde as lutas liberais na primeira metade do século XIX que o país vive divisões e conflitos internos.

Ainda assim foi um período de progresso sobretudo na segunda parte do século XIX, contudo a tensão foi enorme nas últimas décadas da monarquia e que se acentuara após a república. Sucessivos governos caíram e inflações descontroladas. É neste cenário de instabilidade que na sequência dum golpe militar (de generais a 28/05/1926) que se inicia o “Estado Novo” e que viria a terminar também através dum golpe militar (mas de capitães a 25/04/1974).

António Oliveira Salazar que no início era ministro das finanças e consegue controlar a inflação passando assim a presidente do conselho quando se da uma remodelação do governo em 1933 começando assim a designação “Estado Novo”.
 De inspiração fascista (como em alguns países da Europa, na época), regime fortemente centralizado pelo governo/estado e ditatorial. Conseguiu impor finalmente uma acalmia e uma ordem social no país, contando para isso com uma polícia específica para o efeito. Primeiramente PVDE (Policia de Vigilância e de Defesa do Estado), mais tarde alteraram o nome para PIDE (Policia Internacional e de Defesa do Estado) e por fim DGS (Direcção Geral de Segurança) já com Marcello Caetano na presidência do conselho de ministros em 1968, uma vez que António Oliveira Salazar abandonou o poder por incapacidade sobretudo física provocada por uma queda que também lhe deixou lesões a nível cerebral.

Após a 2ª guerra mundial o mundo transforma-se enquanto Portugal mantinha-se estático e inabalável como se o tempo tivesse parado. As potências coloniais começavam a desfazer os seus impérios enquanto Portugal mantinha o seu império através da força de defesa militar, que teve início em 1961 na Guiné-Bissau e que depressa se estendeu a Angola e Moçambique. Já nesse ano de Portugal tinha perdido as praças de Goa, Damão e Dio para a União Indiana. A guerra em Angola, Moçambique e Guiné-Bissau aumentava, os anos sucediam-se e a guerra sem fim à vista cansava o sector militar que já mostrava algum cansaço. Na Guiné-Bissau a situação era já tão descontrolada que na reunião da ONU de 25/9/73, 47 países reconheceram a Guiné-Bissau como independente. A sociedade civil também descontente em que as famílias Portuguesas viam os seus filhos partirem para uma guerra longe com um tempo de serviço militar obrigatório quase sempre superior a três anos. A fadiga e o descontentamento militar levaram os militares a fazerem reuniões secretas que começaram em Agosto e Setembro de 1973 e que se prolongaram pelo início de 1974. 

Em Fevereiro de 1973 é publicado o livro “Portugal e o futuro” do General António de Spínola, um ano depois Marcello Caetano em visita a Londres é recebido em ambiente hostil e de contestação devido à situação colonial.
Começa então uma organização de reuniões secretas onde surge a ideia de fazer o golpe militar no 1 de Maio aproveitando as habituais escaramuças do dia do trabalhador para assim o golpe apanhar o regime desprevenido. Daí o golpe de 16 de Abril de 1974 do Regimento de Infantaria 5 das Caldas da Rainha (cerca de 200 homens entre praças, sargentos e oficiais), que mal planeado, a 3 quilómetros de Lisboa souberam que estavam sozinhos e voltaram para trás, vindo a ser detidos, 11 ficaram detidos na Trafaria, Ficou no pensamento dos militares amigos dos detidos irem salva-los mas sem serem presos. A PIDE acreditou no embuste dos revoltosos irem tentar o golpe só no dia 1 de Maio, desenvolvendo os meios e estando em alerta para esse dia especifico e sobretudo tendo uma lista de captura de oficiais entre eles Otelo para o dia 27 de Abril.
Daí o golpe de estado a 25 de Abril ter-se dado pela questão militar do Ultramar e não pela razão do regime ser uma ditadura antidemocrática e contra a liberdade de expressão, já que politicamente os opositores ao regime estavam exilados ou presos e não tinham qualquer poder ou forma de fazer face ao regime pela força. A sua força era a cultura de outros ideais que irritavam o governo fascista que queria manter a situação imutável e o povo na ignorância.


O 25 de Abril de 1974

Otelo Saraiva de Carvalho por volta das 22 horas do dia 24 de Abril de 1974 fardado chega ao Regimento de Engenharia e ali o major acompanhado de outros oficiais (os tenentes-coronéis Garcia dos Santos e Lopes Pires, o comandante Victor Crespo, os majores Sanches Osório e José Maria Azevedo, o capitão Luís de Macedo…) instalam o posto de comando num pequeno anexo com as janelas tapadas por alguns cobertores, sobre a mesa uns papéis manuscritos e um mapa de estradas que fazia de carta operacional com os esboços das movimentações, sendo a base do “plano geral das operações” dividia-se em duas zonas - Zona Norte e Zona Sul.
Do Posto de Comando com o nome de código “Óscar” dão o conhecimento da situação e as instruções às unidades militares de todo o país envolvidas nas operações. O primeiro sinal como combinado seria dado pelo então posto “Emissores Associados de Lisboa”. João Paulo Dinis era locutor e fizera a tropa em Bissau sob as ordens de Otelo, daí a escolha de Otelo. E cabe a Dinis dar voz e escolher a canção “E Depois do Adeus” de Paulo de Carvalho. A segunda senha é dada na “Rádio Renascença”. Otelo fazia ponto de honra que fosse uma canção do Zeca Afonso e estava indeciso entre “Venham Mais Cinco” e “Trás Outro Amigo Também” mas, logo os seus camaradas fizeram notar que seriam canções muito óbvias e que iriam suscitar desconfiança. Foi então que o jornalista Carlos Albino sugeriu “Grândola Vila Morena” e é esta que acaba no ar no programa “Limite” de Paulo Coelho e Leite de Vasconcelos.

Por volta das 00.20h grande parte das forças envolvidas põem-se em movimento. O Quartel-General da Região Militar de Lisboa é o centro nevrálgico das “Forças do Regime”, o edifício é tomado pelo Batalhão de Caçadores 5 com o código “Canadá”, a mesma unidade também se encarrega de proteger a residência do General António de Spínola, importante é também o aeroporto da Portela, operação com o código “Nova Iorque” que fica encarregue à Escola Prática de Infantaria (EPI) de Mafra que às portas de Lisboa a coluna militar perde-se nas ruas e becos escuros de Camarate. Junto ao aeroporto o capitão Costa Martins esperava a coluna da EPI e desesperava e decide neutralizar sozinho de pistola em punho a guarda do aeroporto e entrou mesmo na torre de controlo fazendo “bluff” durante mais duma hora dizendo que o aeroporto estava cercado e para se interditar o espaço aéreo português imediatamente. A EPI chega e toma de imediato conta do aeroporto e ainda neutraliza o Regimento de Artilharia Ligeira 1 em Lisboa junto ao aeroporto. A Escola Prática de Transmissões fazia as escutas telefónicas militares das forças do regime que depois transmitia ao Posto de Comando. O Regimento de Cavalaria 3 de Estremoz vem a Lisboa com a missão de controlar a Ponte Sobre o Tejo, tomando posições do lado sul do Tejo (Pragal). Enquanto nas colinas adjacentes à ponte de ambos os lados a Escola Prática de Artilharia de Vendas Novas toma posições apontando baterias junto ao Cristo Rei, para o Terreiro do Paço e Monsanto. A mesma unidade chega à Trafaria e liberta os militares que tentaram a 16 de Março o “golpe das Caldas da Rainha” e que se encontravam presos na Casa de Reclusão da Trafaria. 

Os órgãos de comunicação social também eram de crucial importância controla-los, por isso coube à RTP (única emissora televisiva da época) ser tomada pela então, Escola Prática de Administração Militar, com o código “Mónaco”. A antiga Emissora Nacional, actual RDP foi tomada com meios limitados pelos capitães Oliveira Pimentel e Frederico de Morais mais 40 praças de especialidades diversas do Campo de Tiro da Serra da Carregueira. À porta da Rádio Clube Português estão homens chefiados pelo capitão Santos Coelho e pelo Major Costa Neves da Força Aérea, Costa Neves e seus camaradas forçam a entrada e é esse o posto escolhido para emissor do MFA. Mediante esta situação os ouvintes ficam a par do desenrolar dos acontecimentos. Mas a missão principal cabe ao capitão Salgueiro Maia que chama a atenção das forças fiéis ao regime através dum itinerário no sentido de dispersar as capacidades inimigas e ainda de controlar o Banco de Portugal. Outro momento muito importante dá-se às 5 horas quando o Major Silva Pais director-geral da PIDE/DGS dá conhecimento ao presidente do Conselho (função que equivale actualmente à de primeiro-ministro), Marcello Caetano dos acontecimentos, que este ainda desconhecia, referindo que a situação era grave e dando instruções para se refugiar o mais depressa possível no Comando-Geral da GNR. 


Os populares gritavam por vingança e palavras de ordem contra a ditadura e guerra colonial. Salgueiro Maia depois terá mesmo pedido calma ao povo de megafone em punho. Mesmo que o regime não caísse as coisas já não seriam mais como antes, o povo nesse dia já tinha ouvido coisas novas e ficou a saber que tipo de regime e que políticos governavam o país por isso aderiram de imediato ao Movimento das Forças Armadas, ao final da tarde chega Spínola e Caetano submete-se e entrega-lhe o poder e pede protecção, ao que por entre uma multidão eufórica se celebra a “Liberdade” com cravos vermelhos.
O cravo tornou-se no símbolo da Revolução de Abril de 1974 porque com o amanhecer as pessoas começaram a juntar-se nas ruas, apoiando os soldados revoltosos, entretanto alguém (existem várias versões, sobre quem terá sido, mas uma delas é que uma florista contratada para levar cravos para a abertura de um hotel, foi vista por um soldado que pôs um cravo na espingarda, e em seguida todos o fizeram), começou a distribuir cravos vermelhos pelos soldados que depressa os colocaram nos canos das espingardas.

                Às 19.50h foi emitido um comunicado - “O Posto de Comando do MFA informa que se concretizou a queda do Governo, tendo Sua Excelência o Professor Marcello Caetano apresentado a sua rendição incondicional a sua Excelência o General António de Spínola”. Logo após é lida na RCP a “Proclamação do Movimento das Forças Armadas”. Marcello Caetano partiu no dia seguinte as 00.07h da manhã, para a Madeira, rumo ao exílio no Brasil.
A revolução, apesar de ser frequentemente qualificada como "pacífica", resultou, contudo, na morte de quatro pessoas, quando elementos da polícia política dispararam sobre um grupo que se manifestava à porta das suas instalações na Rua António Maria Cardoso, em Lisboa.
Na madrugada do dia 26 de Abril apareceram na televisão as novas caras do poder, “A Junta de Salvação Nacional” como presidente, António de Spínola, que lê uma proclamação ao país: “Um Novo Regime… A Democracia… A Paz…

“Foram dias foram anos a esperar por um só dia.
Alegrias. Desenganos.
Foi o tempo que doía com seus riscos e seus danos.
Foi a noite e foi o dia na esperança de um só dia. “
Manuel Alegre

 Letra da música da Liberdade " Grandola Vila Morena "

Grândola, vila morena
Terra da fraternidade
 O povo é quem mais ordena
 Dentro de ti, ó cidade


Dentro de ti, ó cidade
 O povo é quem mais ordena
Terra da fraternidade
Grândola, vila morena

Em cada esquina um amigo
Em cada rosto igualdade
Grândola, vila morena
Terra da fraternidade

Terra da fraternidade
Grândola, vila morena
Em cada rosto igualdade
O povo é quem mais ordena

À sombra duma azinheira
Que já não sabia a idade
Jurei ter por companheira
Grândola a tua vontade

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